NO PASARÁN! NO PASARÁN!Em 6 de novembro de 1936, as forças fascistas estavam às portas de Madri. O governo republicano abandona a cidade, deixando apenas uma junta de defesa e cartazes avisando aos civis: "Evacuem Madri! Evacuem Madri!" Instigado por um discurso inflamado, encorajador e emocionante de uma mulher, transmitido por uma rádio, o povo madrilenho decide resistir. "NAO PASSARAO! NAO PASSARAO", repetia ela. Imediatamente, novas faixas e cartazes se espalham pelas ruas: "No pasarán! Madrid será la tumba del fascismo". E o que era impossível acontece: nesse ano, Madri nao cai, por obra e graça de Dolores Ibárruri...La Pasionaria.
(Cartazes "Evacuem Madri")

(Cartaz da resistência popular)
Está aí uma dessas mulheres, cuja história de vida todos deviam conhecer. O grande protagonismo que teve na conturbada vida política espanhola da década de 1930, num tempo de escasso espaço reservado à mulher, a torna um dos mais importantes símbolos históricos da luta popular anti-fascista e anti-imperialista, e um ícone do movimento libertário mundial.
Nasceu em Vizcaya (1895), País Basco, filha de uma pobre família de mineiros. Desde cedo, teve que trabalhar: primeiro como doméstica, e depois como costureira. Em 1916, casa-se com um mineiro socialista, de quem aprende conhecimentos rudimentares de marxismo. Inicia sua militância política nas Juventudes Socialistas, das quais se separa para fundar o Partido Comunista Espanhol, em 1920, do qual será um quadro qualificado (inclusive, como membro do Comitê Central).
Participa ativamente da grande greve geral de 1917, convocada conjuntamente pelos sindicatos UGT (ligado aos socialistas) e CNT (dos anarquistas). Um ano depois, publica o célebre artigo “El Minero Vizcaíno”, assinando-o com o pseudônimo “La Pasionaria”, em lembrança à admiraçao que, desde criança, sentia pela Paixao de Cristo e porque a publicaçao coincidia com a semana santa.
Mas, sua atuaçao se intensificou mesmo foi nos anos ’30, no contexto dos eventos convulsivos que levaram a Espanha, em 1939, à ditadura franquista. Como se sabe, em 1931 se proclama la II República, sendo o governo formado pelo partido socialista e outros grupos de esquerda. Em 1936, nao se conformando com a ordem democrática estabelecida, as forças conservadores e fascitas promovem um levantamento militar, cujo líder maior é Francisco Franco. Nos três anos seguintes, a Espanha mergulha numa terrível guerra civil, resultando em quase um milhao de mortos e uma cruel ditadura de quase 40 anos.
Nos primeiros anos da República, La Pasionaria, fortemente ligada ao movimento mineiro-operário, se destaca como uma aguerrida militante comunista, o que lhe rende, em várias ocasioes, a prisao. Ainda no seio da sociedade civil, sem deixar de lado a redaçao do jornal comunista Mundo Operário, vem a ser presidente da Uniao das Mulheres Anti-Fascitas. No campo político, participa ativamente dos congressos da Internacional Comunista, da Assembléia Constituinte e, finalmente, se elege como deputada do PCE por Astúrias, regiao de fortes sindicatos de mineiros.
Iniciada a Guerra Civil, La Pasionara se converte num mito para parte da Espanha, por sua capacidade de unir as forças republicanas (socialistas, comunistas, anarquistas e democrático-progressitas) na luta contra os fascistas sublevados. Como vice-presidenta do Congresso dos Deputados, passa a se deslocar pelo país organizando e animando a resistência popular e as forças leais à República, como as brigadas internacionais.
Seus discursos incendiavam os combatentes republicanos, ficando popularmente conhecidas a expressao “Antes morrer em pé que viver de joelhos” (original de Emiliano Zapata) e, sobretudo, o grito “No pasarán!”, pronunciado durante o mítico discurso que fez na Unión Radio de Madri, e celebrizado pelos madrilenhos na heróica defesa da cidade.
Terminada a Guerra Civil, com a vitória dos fascistas, La Pasionaria consegue exilar-se na URSS, tornando-se, posteriormente, em 1942, Secretária Geral do clandestino PCE, e em 1960, presidenta. Nesse mesmo período, torna-se membro do Secretariado da Internacional Comunista.
Depois da morte do ditador Franco e no período da transiçao democrática, La Pasionaria volta, definitivamente, à Espanha em 1977, elegendo-se, mais uma vez, aos 82 anos, deputada por Astúrias nas primeiras eleiçoes democráticas. Morre em Madri, em 1989.
Assista a um trecho do discurso pronunciado na Unión Radio de Madrid,
clicando aqui.Íntegra do discurso "No pasarán!",
aqui.
Entrevista com Pasionaria em 1977,
clique aqui.
O "No pasarán!" de Madri,
aqui.
Cartazes Republicanos da Guerra Civil Espanhola,
aqui e
aqui.