sábado, 14 de junho de 2008

Romaria, de José Inácio Vieira de Melo

(do blog do noblat)

Dentro de mim, nas lonjuras,
bem dentro do meu juízo,
um romeiro caminhando
em busco do que preciso.

Oh que caminho tão longe
cheio de pedra e de areia,
tenho que firmar o passo
e romper essas cadeias.

Pergunto, em meu desatino,
aonde ir? Que lugar?
Por que a sina da cigarra
Esparramando o cantar?

Certo, sou aquele que parte
numa eterna romaria,
faça sol ou faça chuva,
seja de noite ou de dia.

O caminho que percorro
não o da Rosa dos Ventos,
pois ele surge do nada,
de acordo com o momento.

Oh que estrada mais comprida,
tanto azul, tanta poeira,
em que plaga do Universo
estará meu Juazeiro?

Cada qual tem seu destino:
Pedro Vaqueiro tangia
gado pelo mundo afora;
seu Fortunato fazia

forno pra queimar tijolo;
Manezin Tetê, meu tio,
caçava tatu e onça
com o luzeiro dos pavios.

Lá me vou com minha cruz,
são poucos beiços de açude
e tantas léguas tiranas.
Maior e vária é esta sede

que vale cada passada
desta minha romaria.
Peregrino de mim mesmo
no meio da travessia.

José Inácio Vieira de Melo é poeta e jornalista. Publicou os livros Decifração de Abismos (2002) e A Terceira Romaria (2005), dentre outros. É co-editor da revista Iararana e colunista da revista Cronópios. Coordena o projeto Poesia na Boca da Noite. Leia mais sobre José Inácio Vieira de Melo.

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