
Meu amigo de longas datas, Jorge Soares, me mandou esse artigo recheado de filosofia, epistemologia pura e dura. Complexo, mas esclarecedor. Muito interessante. Vale a pena ser lido.
Jorge é um cara a quem devoto muita admiraçao. Durante certo tempo, fomos caminheiros de uma mesma estrada e protagonistas de uma história comum; compartilhamos de um mesmo projeto e olhamos pra uma mesma direçao: queríamos ser franciscanos. Mas, mudamos, eu e ele. Cada um seguiu pra um lado. No entanto, mesmo tendo mudado de caminho, parece que o rumo continua o mesmo: dar uma maozinha pelo bem da humanidade.
Jorge é, hoje, psicanalista e professor universitário.
Segue seu texto:
Tudo começa com o saber
Quando julgamos ser óbvio, quase nunca é verdade. Quando julgamos ser verdade, quase nunca é absoluto. E nos questionamos, o sujeito sempre se coloca diante do objeto como uma ação avassaladora. E nos perguntamos, até quando seremos tratados como objetos e não como sujeitos protagonistas e não como expectadores. Pegando uma carona com a teoria marxista, “o homem é um ser histórico”, sendo ele que faz a sua historia.
Hoje, portanto, com o advento de uma classe que tiveram o poder do saber, é notado a subalternidade de outra que foi sempre subjugada pela dominante. Esta classe dominante predomina como na velha ética grega: o bom, o verdadeiro, o belo, o absoluto. É preciso ter virtude (virtus), se tiver esses valores, você pode até ser considerado “cidadão” pertencente à polis. Do contrário, é colocado na marginalidade. Assim, o sujeito sobrepõe-se ao objeto considerando-o não-ser, o desqualificado, o subdesenvolvido. “Lamentável, raça, de um dia, filhos de acidente e sofrimento (...) o melhor de todos é impossível de obter - não nascer, ser nada” (Nietzsche). Daí, quando a gente faz uma viagem em algumas cidades do Brasil e América Latina e África, notamos o mundo pérfido e insolente, mundo “grego”, mundo do nada.
Desde a antiguidade que o homem busca na razão, toda espécie de verdade para conhecer a realidade do universo, a origem e o significado das coisas. Aristóteles chegou a considerar inerente à natureza o desejo de saber, a curiosidade espontânea para o conhecimento. Até aí tudo bem, nós avançamos e somos hoje pensadores e inventores na natureza. Criamos linhas imaginárias para delimitar o hemisférico, avançamos na ciência, porém, em toda história esse conhecimento sempre foi limitado. Não basta só conhecer, é preciso saber, como afirma Francis Bacon “saber é poder”. Se você sabe, tem o conhecimento. Entretanto, a sabedoria não é o uso adequado do conhecimento para fins éticos e construtivos? Só que o poder é o uso do conhecimento para qualquer fim. E aí a problemática como classe que obteve a sabedoria estar usando o poder?
O conhecimento é, sem dúvida, importante, porém, não garante a sabedoria. Assim, tanto o poderoso quanto o “sábio”, precisam do conhecimento. Então, o conhecimento é axiomático ao saber, um depende do outro. Sendo assim, caro leitor, o conhecimento é uma parte como um rio corrente, quando acontece a enxurrada transborda por toda margem.
Se pensar construtivismo, todos devem ter acesso e beber desta mesma água, o saber. Por conseguinte, cada vez que um ser humano é impedido de aprender a ler, cada vez que a comunidade dos homens não o inicia nessa capacidade, ela o está colocando fora de quase todas as possibilidades de obtenção e transferência de conhecimento.
Da mesma forma, cada vez que um ser humano que aprendeu a ler e a escrever não usa essa capacidade em seu favor e em favor da comunidade em que vive, ele está condenando a si mesmo à marginalidade. Logicamente, o uso e abuso do poder leva o indivíduo à marginalidade. Então adentrando na lógica do saber pode-se abstrair com a práxis do momento os grandes articulares políticos que mobiliza e decidem uma eleição,os que estão,por trás do tráfico de droga. Enfim, tudo isso é fruto do “saber”.
E, assim, ficamos intactos diante da realidade, “É preciso duvidar de tudo que existe” (Descartes.), mas duvidar só, não resolve, é necessário apresentar argumentos lógicos para que haja uma metanóia. E isso só se resolve com o “saber” colocado para o bem comum da humanidade.
Sendo o “homem como a medida de todas as coisas” (Protágoras), ele age e coloca a sabedoria quando conhece o bem e conhecendo-o, não pode deixar de praticá-la. Por outro lado, aspirando o bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz.
Portanto, a DOXA E O EPISTÉMIE são fundamentais para não ser conhecido como objeto desqualificado e insolente. O indivíduo deve opinar para justificar qualquer espécie de verdade, seja ela dogmática ou não, óbvio ou absoluto tudo isso é ponto de dúvida.
Jorge Soares,
Professor
jsjsdsba2@hotmail.com
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