terça-feira, 29 de abril de 2008

Lula em céu de brigadeiro

Charge - Amarildo (copiada do blog do Noblat)
O homem tá parecendo a massa de pao: quanto mais bate, mais cresce! Só resta à oposiçao mudar de estratégia.

Totò, Peppino e la Malafemmena

Esse é o título de um dos melhores filmes de Totò, que foi, pra mim, o maior cômico de todos os tempos. Suas piadas, seu dialeto napoletano, suas improvisaçoes...o tornam único. Uma pena que nós nao conhecemos esse mestre da comédia! Seleciono aqui algumas cenas tiradas de Youtube.

Totò, Peppino e la Malafemmina conta a história da família Capponi, moradora da zona rural do sul da Itália. Gente simples, caipira, que desconhece a cidade grande. Um dia, Gianni, sobrinho dos irmaos Capponi (Totò e Peppino), abandona seus estudos, sua mae, o vilarejo pra ir atrás de Marisa, uma bailarina que se dirige a Milao em tourné. Os tios, entao, resolvem partir em busca do rapaz. E aí começam as aventuras.

Três cenas se destacam pelo esplendor da improvisaçao e da graça. A primeira, quando chegam na estaçao de trem de Milao,vestidos como russos, porque achavam que, em Milao, sempre fazia frio e sempre havia névoa (como havia dito o amigo Mezzacappo). Famosa a frase de Totò, quando perguntado por Peppino onde estava a névoa....relembrando que Mezzacappo dissera que "quando há névoa em Milao, nao se vê", ele diz: "La nebbia c`è, ma non si vede!" Confira aqui.

A segunda, é a cena em que Totò e Peppino se aproximam de um guarda de trânsito, na praça do Duomo, crendo que ele é um general austríaco, pelo modo de vestir e de falar (com acento milanês) e lhe perguntam: "Para ir aonde devemos ir, aonde devemos ir. É uma simples informaçao". Como toda traduçao tem um pouco de traiçao, em português perde um pouco da graça: "Per andare dove dobbiamo andare, dove dobbiamo andare. È una semplice informazione." Confira clicando aqui.

A terceira é melhor de todas. Totò dita a Peppino a carta que os dois vao entregar à namorada do sobrinho. Inigualável. Conta-se que foi improvisada. É simplesmente maravilhosa. Confira aqui: Clique.

O brasileiro e o mercado de trabalho espanhol

Publicado originalmente, no Jornal A Regiao

Em termos gerais, os setores profissionais que mais empregam imigrantes na Espanha sao os de serviços e a construção civil, seguidos pela indústria e agricultura. Entretanto, há uma variedade interessante em função da nacionalidade. Geralmente, os originários da União Européia estão inseridos no setor financeiro e comercial, ou no desempenho de profissões liberais. Já entre os latino-americanos predominam a hotelaria, o serviço doméstico, trabalhos em bares, restaurantes e na construção civil, ou seja, atividades que não exigem especial qualificação.

Os brasileiros, em sua imensa maioria, “pegam no pesado”, ou seja, trabalham na construçao civil e nos serviços, salvo algumas exceções. Aliás, segundo a Associação Nacional de Empresários e Profissionais Autônomos (ANEP), 96% dos brasileiros trabalham nesses dois setores. Geralmente, quem está documentado não encontra demasiadas dificuldades pra achar um emprego num restaurante, loja, hotel, casa de família ou na “obra”. Quem, pelo contrário, não possui documentos regulares passa dificuldades importantes. Além de se submeter a jornadas rigorosas e remuneração mais baixa, ainda fica exposto à exploração. É o pessoal que, em Madri, é simbolizado pela conhecida “Praça Elíptica”. Nesse lugar cêntrico da cidade, ponto de saída para o sul da capital, na rodovia que leva a Toledo, todo santo dia pela manhã uma multidão de imigrantes indocumentados abarrotam as calçadas esperando os recrutadores de mão-de-obra barata. É o ambiente certo pra conhecer histórias de milhares de trabalhadores brasileiros.

Eu, pessoalmente, conheço alguma delas, de gente que chega a trabalhar 13 horas por dia num canteiro de obras; de meninas diaristas que suportam o inimaginável limpando casas; de garçons e garçonetes que dormem apenas algumas horas por dia. Mas, também conheço pessoas que estão confortáveis. E não falo dos brasileiros ricos dos bairros de Las Rozas e Majadahonda: empresários, funcionários de bancos, embaixada, consulado. Falo de gente que, após três/quatro anos, conseguiu se estabilizar e ter uma vida tranquila.

Em geral, ganha-se um pouco mais do que o salário mínimo espanhol, 600 euros, numa jornada de oito horas. Mas, levando-se em conta o custo de vida, dificilmente a remuneração mínima legal permite chegar com tranquilidade ao fim do mês. Moradia é, sem dúvida, o que mais pesa. Em Madri, por exemplo, o aluguel de um apartamento não sai por menos 700/800 euros. A solução é dividir. É comum encontrar 7, 8, até 10 pessoas num apartamento. Ou mais. A ONG SOS Racismo já denunciou ter encontrado casas de 25 metros quadrados, divididas por 20 pessoas. Sao as “casas-balsas”. Há também a prática de alugar apenas a cama. É o que se denomina aqui de “cama caliente”. São colchões alugados por tempo, turnos normalmente de 12 horas, que vão das 8h às 20h e das 20h às 8h. Parece mentira, mas não é. Quem trabalha durante o dia aluga a cama pra outro que trabalha à noite. Ganhou esse apelido de “cama quente” porque nunca dá tempo de esfriar. São os “severinos” do tal primeiro mundo, vivendo sua vida também “severina”.

E agora que a Espanha já sofre os efeitos da crise americana, com a desaceleração econômica, especialmente do setor imobiliário, com um prognóstico de crescimento de 2% para 2008, a situação do mercado de trabalho para os imigrantes não parece sinalizar para melhoras. De fato, acaba de sair um dado preocupante, divulgado pela Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE),: calcula-se que 1 milhão de estrangeiros perderão seus postos de trabalhos até o fim de 2009 por culpa da crise, especialmente nos setores de serviço e construção. Só deste último setor, haverá entre 600 mil e 800 mil novos desempregados, sendo 95,5% deles imigrantes. Essa previsao parece, de fato, ter um fundamento sólido, pois o Ministério do Trabalho tornou público, recentemente, que, nesses primeiros meses de 2008, houve um aumento de 92,1% de desempregados imigrantes no setor da construção em relação ao mesmo período do ano passado. Na agricultura, a taxa foi de 139,5%.

Os reflexos da crise, inclusive, já teriam refletido no próprio fluxo migratório, a deduzir pela leve queda na taxa de imigrantes. Já para aqueles que perderao seus empregos, a soluçao será o caminho de casa. O governo socialista vai estimular a repatriaçao voluntária, até mesmo oferecendo passagem de ida.

Assim, quem estiver com pretensão de embarcar na aventura de trabalhar fora do Brasil, “sin papeles”, sobretudo na Espanha, que pense bem. Esqueça, principalmente, que vai ter vida fácil e, em pouco tempo, ganhar muito dinheiro. Só vale a pena mesmo se for com contrato regular de trabalho. Do contrário, é como dizia Cazuza: “dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão, da caridade de quem me detesta”.

Os números da imigraçao brasileira na Espanha

Texto publicado originalmente no Jornal A Regiao, de Itabuna, Bahia.

Em poucas décadas, a Espanha passou de ser um país de emigrantes para ser receptor de um intenso fluxo migratório. Segundo o Censo 2007 do Instituto Nacional de Estadística-INE (organismo oficial encarregado de coordenar os serviços estatísticos da administração do Estado), um percentual de 9,1% da população espanhola são de imigrantes. São nada menos que 4.519,6 pessoas. Deste universo, 44,81% estão concentrados em apenas três províncias: Madri, Barcelona e Alicante.

Ao contrário de França, onde 10% da população são de nacionalidade argelina, ou Alemanha, cujo predomínio é dos turcos, a imigração espanhola é bastante variada, estando dominada, em primeiro lugar, pelos países da própria Comunidade Européia e, em segundo, pelos ibero-americanos. De fato, segundo a Secretaria de Estado para Imigração, dos estrangeiros com permissão de residência, 38% são europeus comunitários, e 30% são latino-americanos. Os campeões, no entanto, na classificação por nacionalidades, são os marroquinos (16,31%), seguidos pelos romenos (15,18%), equatorianos (9,95%), colombianos (6,39%), britânicos (4,99%), búlgaros (3,19%), italianos (3.14%), chineses (3.01%), peruanos e portugueses, ambos na casa dos dois por certo. Estas dez nacionalidades representam 67,64% do total de estrangeiros com autorização de residentes na Espanha, no final de 2007.

Quanto aos brasileiros, o número daqueles que têm apenas permissão de residência está na casa de 39.160 pessoas, de acordo com os dados de 2007. Entretanto, levando-se em consideração o Censo 2007, do Instituto de Estatística, esse número sobe para 90.161. A diferença tem explicação no fato de que, nos dados da Secretaria de Estado para a Imigração, não se leva em conta o número de “empadronados”. Este “empadronamiento” é imprescindível para matricular os filhos na escola e ter acesso ao sistema público de saúde, e se trata de um procedimento mediante o qual a pessoa se inscreve, na prefeitura, como moradora do município no qual se encontra. De acordo com os números do censo, cuja pesquisa é bem mais ampla, o Brasil ocupa o 15º lugar no ranking do fluxo migratório para a Espanha, ficando em 6º, considerando-se apenas a América Latina. Perde apenas para Equador, Colômbia, Argentina, Bolívia e Peru.

Os dados disponibilizados pelos INE revelam que o crescimento da população imigrante brasileira se deu num ritmo consideravelmente lento até 2002.

Ano Pessoas
1998 6.709
1999 8.332
2000 11.126
2001 17.078
2002 23.719

No entanto, a partir daí, houve um aumento acentuado do fluxo migratório, que chegou ao patamar de 72.441 pessoas, em 2006, e 90.161, em 2007. Em termos percentuais, isso significa um aumento de 380% entre 2002 e 2007. Mas o número real, entre documentados e indocumentados, pode chegar a mais de 130 mil brasileiros, segundo o Consulado Geral do Brasil em Madrid.

Um dado interessante que merece ser destacado é a questão do gênero. Há um predomínio enorme, no caso brasileiro, da presença feminina. A imensa maioria dos imigrantes brasileiros está constituída por mulheres. É algo em torno de 66%, ou 54.598 mulheres, contra 35.563 homens. Esse é um dado que merece ser objeto de pesquisa.

Também o é o crescimento do fluxo a partir de 2002. Afinal, o que explica esse aumento vertiginoso da saída de brasileiros para a Espanha entre 2002 e 2007, em pleno governo Lula? Não deixa de ser um fato intrigante, uma vez que tem lugar justamente num período de recuperação econômica, controle inflacionário, forte geração de empregos, importante valorização dos salários, implementação de políticas públicas de grandes impactos sociais, aumento do crédito, etc. Não é uma resposta simples de dar. Seria necessário analisar o perfil dos emigrados do Brasil, as regiões de origem, as motivações, etc., para se ter uma explicação global do fenômeno.

O que se sabe é que há um conjunto de fatores. Um deles é o sonho (ou a ilusão) de se dar bem no chamado primeiro mundo. As distorções do capitalismo mundial, mais do que em qualquer outro momento, produzem e justificam a maioria dos fluxos migratórios não só do Brasil, mas de todo o sul para o norte do planeta. E a Espanha não é exceção. Fatores como os preços relativamente acessíveis das passagens para este país – se comparados com outros países europeus -, ainda mais num período de valorização do real; a ausência de visto para a entrada; o aumento do controle migratório em outros países tradicionalmente receptores de brasileiros, como Inglaterra, Portugal e Itália, forçando um desvio de rota; e a política de regularização de imigrantes são justificantes importantes. Periodicamente, a Espanha põe em marcha um plano de regularização de imigrantes indocumentados. Só em 2006, o governo regularizou mais de 600 mil pessoas. Isso, sem dúvida, é um atrativo relevante.

Mas...com a palavra os especialistas em ciências sociais.

Carta de minha amiga Maria Sueli, da Bélgica

29 de Março
Um e-mail revelador de uma amiga que vive na Bélgica, emigrada do Brasil por conta da ditadura, comentando e refletindo sobre o Velho Continente nestes tempos de fluxos migratórios constantes. Tendo como ponto de partida o quanto ocorrido no show em Madri e os comentários dos internautas a uma matéria minha sobre o fato, ela assim escreve:

“Oi Luciano, rapaz, que desespero! Nem posso fazer como Chico Buarque, em tempos idos, e pedir pro meu amor chamar o ladrão, e me livrar do pesadelo da policia que esta chagando. O conteúdo da maioria das opiniões emitidas me espanta muito. E só não me dá tristeza, porque me dá raiva – porque depressão é coisa muito chata e acaba com o pouco de beleza que a idade me deixa desfrutar!

Vivo na Bélgica desde 1974. Aqui cheguei fugida da policia : primeiro a do Brasil (1972), depois a do Chile (1973). Aqui fui ficando... ficando, e... fiquei. Fiz duas crianças, tenho dois netos. Amei e amo muito, trabalhei e trabalho muito...

Sem nostalgia, posso dizer que a Europa de 2008 não é a mesma que me acolheu de 1974. O ódio ordinário, cotidiano e rampeiro contaminou de novo o Velho Continente. A democracia, fundada na separação dos três poderes, esta se esvaziando. A mídia está ocupada pelos donos das grandes empreiteiras transnacionais. As crianças e os velhos (pratico-psicanálise com criança em serviço publico), estão sofrendo pra danar da ausência, cada dia maior,de um Estado capaz de regular as relações entre os donos do dinheiro e os que vivem do trabalho.

A estes ultimos, só sobra funcionar como os primeiros: pra onde vai o dinheiro, eles vão tambem. E por que não? Alguém pode justificar? Êta vida Severina!

Conheço aqui na Bélgica muito Severino Irregular. Muita Severina Irregular. Alguns não têm nem mesmo uma cova, como parte do Latifundio Global, onde cairem pra viver. Outros têm casa, cova e outras coisas mais no Brasil, mas vieram tentar a vida por aqui.

Todos trabalham, amam, comem, bebem, cagam, dormem, fazem filhos, que dão certo ou errado...na Patria onde estão. Muitos gostam de musica e alguns gostam de dançar em discoteca.
Olha gente, Trabalhador Irregular que vai dançar não é caso de policia! Trabalhador Irregular é só um dos nomes da Miséria Capitalista Financeira. Os que a estão parindo, não sofrem controle de documento de identidade nem batida de policia. Vivem em perfeito anonimato. Tambem não são ofendidos pelos Moralistas Anônimos de serviço.

Recado pros aspirantes a turista: elevem o nivel do debate! Caso contrario , os museus e salas de concerto do primeiro mundo vão acabar fechando as portas pra tanta feiura.

Um abraço brasileirinho.(Maria Sueli Peres)”

Qualquer ulterior comentário, diante de tanta lucidez e profundidade desse e-mail, seria pleonasmo barato. Só cabe silêncio e reflexao.

Publicado no blog Pimenta na Muqueca (II)

Em 03 de abril de 2008

"Brasil e Espanha: um freio à guerra de deportações"

Essa foi a manchete da reportagem do jornal El Diario, referindo-se ao acordo ajustado entre Brasil e Espanha no tocante ao problema das deportações. Nessa mesma tônica, os demais meios de comunicação se manifestaram sobre o assunto.

O jornal El Mundo, em uma análise extensa do problema, considerou o encontro bilateral como uma "hoja de ruta" ou um road map for peace (expressão usada para designar o plano de paz entre palestinos e israelenses em 2002) fixado pelos dois países para superar a crise das retenções.

Conferir toda a matéria Aqui.

Publicado no blog do Noblat

Polícia espanhola caça brasileiros em situação irregular
23.03.2008

De Luciano Reis Porto no blog Pimenta na Muqueca:

Como se sabe, a Espanha recrudesceu o seu controle sobre os brasileiros que chegam ao país. Já é mais de 1.000 o número de barrados no Aeroporto Internacional de Barajas (Madri) nestes três primeiros meses do ano. É mais de um terço dos retidos em todo o ano de 2007 - algo em torno de 3000 pessoas, segundo o Consulado Geral do Brasil em Madri.

Mas, como se não bastassem o extremado e injustificável endurecimento das autoridades espanholas, os reiterados relatos de vexações, humilhações, maus-tratos; como se não bastasse a ocorrência de situações que beiram ao cárcere privado, uma vez que pessoas estão passando horas e horas trancadas, sem comunicação e sem comida e água...agora parece que começou uma verdadeira caça às bruxas!

Conferir texto completo Clique.

Do blog Pimenta na Muqueca (I)

Brasileiros barrados na Espanha: agora, sim, começou a repercutir

18 de março de 2008

Já faz algumas semanas que a mídia brasileira começou a por em evidência a situação preocupante dos brasileiros que chegam à Espanha, em virtude do rigor imposto pelas autoridades locais no controle de chegada. O número de brasileiros barrados no Aeroporto Internacional de Barajas (Madri), desde o início do ano, soma já mais de 1.000, segundo dados do Consulado-Geral do Brasil.

Matéria completa, conferir aqui.